Aproximadamente 40% da população global tem alguma dificuldade para dormir, segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). E, no Brasil, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que o índice nacional é até maior: 65,5% dos brasileiros afirmam ter uma baixa qualidade de sono.
Entre as causas das noites mal dormidas, além do medo e a ansiedade, estão a apneia do sono. Esta doença tem acometido 32,8% dos brasileiros (aproximadamente 71 milhões de pessoas), de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
É bem verdade que os casos de apneia do sono sempre foram motivo de preocupação entre os profissionais de saúde, mas o longo período de reclusão social por conta da Covid-19 contribuiu para o acréscimo de queixas nos consultórios médicos.
“Esta doença aumentou brutalmente durante a pandemia, pois as pessoas passaram a enfrentar mais problemas com horários e tiveram alteradas as suas rotinas”, diz o médico pneumologista especialista em Medicina do Sono, Dr. Geraldo Lorenzi Filho.
Aos médicos, é comum pacientes relatarem queixas de roncos com a parada de respiração por segundos, que é apenas um sinal de alerta para quem tem a doença, segundo o neurologista do Hospital Santa Catarina-Paulista, Dr. Maurício Honoshino, que lista também a sonolência excessiva durante o dia, sono não reparador, episódios em que o indivíduo acorda sufocado e irritabilidade e dificuldade de atenção de memória, como outros sintomas de quem sofre da apneia de sono.
Causas e grupos de risco
Tecnicamente, esta patologia é conhecida como Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (AOS). “Ela é causada por um distúrbio que faz com que a respiração durante o sono seja excessivamente superficial ou ocorra a parada completa da respiração por alguns segundos ou minutos”, alerta o neurologista da Hapvida Notredame Intermédica, Dr. Francisco Tomaz Meneses de Oliveira.
“Há uma parada da respiração durante o sono. O problema é que, geralmente, a pessoa não percebe, pois volta a respirar. É uma situação que se repete durante a noite”, exemplifica o Dr. Lorenzi Filho.
Esse bloqueio parcial ou total da nossa via aérea superior ocorre na região da faringe, impedindo a passagem do ar de maneira adequada. “Homens de meia-idade ou idosos, acima do peso ideal, com alterações anatômicas obstrutivas da faringe e do nariz e com alterações de medidas craniofaciais, aumentam as chances de serem acometidos pela doença”, afirma o otorrinolaringologista e médico do Sono do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia, Dr. Nilson Andre Maeda.
A AOS também está associada com as doenças pulmonares crônicas, como a doença pulmonar intersticial, Asma Brônquica (AB), Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e hipertensão arterial pulmonar.
“Na população idosa, é comum o retardo no diagnóstico devido à possível sensação de que os sintomas se devam ao envelhecimento e não à AOS”, detalha o médico da Notredame Intermédica.
Riscos à saúde
O problema da apneia não passa somente por uma noite em claro. Pacientes com a patologia do grau moderado ao acentuado, que não recorrem ao tratamento adequado, estão mais suscetíveis a desenvolverem doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, arritmias cardíacas, infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC), além de sofrerem de sonolência diurna excessiva, que pode até ser motivo de acidentes automobilísticos.
“O sono não reparador e a falta de disposição, concentração e memória prejudicam as atividades diárias, inclusive o trabalho”, alerta o médico do Sono no Hospital Paulista de Otorrinolaringologia.
“Além de um sono de má qualidade e, consequente, a sonolência diurna, a falta de oxigenação leva a uma liberação de adrenalina anormal durante toda a noite. Como consequência, a apneia de sono associa-se ao desenvolvimento da aterosclerose, obesidade e diabetes”, ressalta o neurologista do Hospital Santa Catarina-Paulista.
Já o neurologista da Hapvida Notredame Intermédica cita também os “engasgos, sensação de sufocamento, noctúria (vontade de urinar à noite com frequência), congestão nasal, irritabilidade, alteração do humor, cefaleia matinal e sintomas depressivos” como outros problemas da doença.
Formas de tratamento
Os tratamentos possíveis da apneia do sono vão desde atitudes simples, como não dormir de barriga para cima, por exemplo. “Muitas vezes, o fato de dormir de lado já melhora. Uma placa mandibular, confeccionada por um dentista, também pode ser a solução”, destaca o Dr. Lorenzi Filho.
Em casos mais complexos, há outros tratamentos que consistem em maneiras diferentes de efetivar a desobstrução da via aérea superior durante o sono, especificamente na região da faringe, impedindo os eventos de apneia obstrutiva que reduzem o ronco.
“A cirurgia da faringe, geralmente associada à cirurgia de retirada das amígdalas; uso de CPAP durante o sono (aparelho que produz pressão positiva na via aérea, por meio de uma máscara colocada no nariz); terapia fonoaudiológica (exercícios da musculatura da faringe e da face); cirurgias de avanço maxilo mandibular são algumas opções. Além disso, algumas medidas gerais são importantes, como, por exemplo, controlar o peso corporal, evitar ingestão de bebidas alcoólicas, evitar medicamentos sedativos e relaxantes musculares”, enumera o médico do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia.
Fonte: Guia da Farmacia
Foto: Canva